Da capacitação à Inovação: o caminho do RH para o desenvolvimento humano

Em qualquer organização, o caminho para a inovação começa com a capacitação do capital humano liderada pelo RH. Investir em gente já se mostrou mais significativo do que qualquer outra estratégia de negócio, além de ser indispensável para a sobrevivência das empresas. Em um mundo altamente veloz, o mantra “aprender, inovar e se adaptar” é fundamental para manter a relevância e competitividade no mercado. A única forma de vencer, como destaca Eric Ries no livro “The Lean Startup”, é aprender mais rápido que qualquer outra pessoa, o que demanda tempo e engajamento. E é aí que a jornada se torna ainda mais desafiadora.

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Yuri Trafane, da Ynner Treinamentos

Nessa corrida pela inovação, cabe ao RH uma das responsabilidades mais importantes dentro das organizações: assegurar a capacitação dos colaboradores. Por se dedicar à gestão de pessoas, a área deve ser empática o suficiente para compreender suas necessidades e potencializar o que há de melhor nelas. “Se o ambiente está mudando rapidamente e de forma exponencial, a empresa precisa se adaptar para não morrer. E empresas são feitas de pessoas. Então, elas precisam adquirir novas competências para promover as mudanças internas necessárias”, resume Yuri Trafane, CEO da Ynner Treinamentos.

De forma prática, o RH deve oferecer programas de desenvolvimento e capacitação que estejam alinhados à estratégia e ao modelo de negócio, com ênfase nas competências necessárias à inovação e ao crescimento sustentável. Esse é o principal desafio do RH quando se trata de capacitação: compreender a cultura e os porquês da empresa. “A partir daí, o RH pode liderar a definição das competências necessárias para cada função e se manter em linha com aquilo que a empresa precisa”, complementa o CEO.

Capacitação e inovação: a missão do RH

No entanto, também falta tempo para que os colaboradores se dediquem à educação corporativa. Dados da Deloitte mostram que os funcionários têm menos de 1% de seu tempo disponível reservado para a aprendizagem. E, para piorar, sete em cada dez trabalhadores que atuam no mercado brasileiro estão desengajados, segundo a Gallup.

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Silvio Celestino

Habituado com treinamentos corporativos, inclusive de líderes, o sócio-fundador da Alliance Coaching, Silvio Celestino, já viu de perto como a falta de engajamento pode afastar o colaborador da “sala de aula” – mesmo em empresas consideradas inovadoras. Em uma startup onde atuou como consultor, ouviu do diretor de RH que estava sendo difícil treinar os funcionários. “Das 25 vagas, apenas sete pessoas acessaram a plataforma. Mas o curioso foi saber que um dos gerentes considerou a situação como assédio moral, porque estava trabalhando muito e não teria tempo”, conta.

Conheça seu público

Diante disso, Silvio enfatiza a importância de o RH conhecer profundamente seu time, fornecendo contexto aos dados identificados nas pesquisas de clima e engajamento. Mas isso nem sempre é fácil, pois não são todos os colaboradores que se sentem à vontade para revelar o que realmente pensam ou o que desejam em termos de carreira. “É difícil obter a verdade das pessoas quando fazemos uma pesquisa de treinamento. Muitas vezes, elas não respondem a verdade, mas o que é necessário para serem aceitas naquele meio”, reflete. Além disso, como destaca o especialista, aprender coisas novas não é tão simples nem engajador para todos.

Isso ocorre quando o RH adota princípios que não refletem a cultura brasileira, tampouco a cultura da própria empresa. O sócio-fundador da Alliance Coaching critica fortemente essa desconexão e defende um olhar mais individualizado. “Devemos perguntar o que os colaboradores desejam aprender e alinhar isso com o que sabemos que eles precisam aprender, em sintonia com a estratégia da empresa. É muito difícil, senão impossível, fazer alguém aprender algo que não desperta seu interesse,” afirma. A capacitação só gera valor para a inovação quando o RH compreende essa correlação.

Basicamente, o treinamento deve estar integrado à necessidade da empresa de desenvolver certas habilidades nos colaboradores para que a estratégia de negócio funcione. “Esse é o objetivo do treinamento, não existe nenhum outro”, observa. No entanto, Silvio destaca que a educação corporativa não pode ser simplesmente encaixada na agenda dos colaboradores sem planejamento. “Se a empresa diz que precisa que as pessoas sejam treinadas, muito bem, então quanto tempo do ano você vai deixar as pessoas disponíveis para o treinamento? Porque o treinamento não pode ser enxertado na vida das pessoas,” exemplifica.

Conteúdo atraente

Por isso, o porta-voz da Ynner Treinamentos, Yuri Trafane, enfatiza que os programas oferecidos internamente devem ser atraentes, com conteúdos dinâmicos que agreguem valor e se conectem com as aspirações dos funcionários. Nesse sentido, o desenvolvimento humano, como ele bem diz, não pode se restringir a um simples evento no calendário; precisa ser consistente e contínuo para que não seja visto como uma obrigação. “É importante que as pessoas percebam que aqueles que se engajam no processo de desenvolvimento são mais valorizados e têm mais oportunidades de crescimento na carreira”, ressalta. Com essa abordagem, o RH torna-se capaz de fomentar um ambiente propício para a inovação, onde a capacitação é o foco de toda e qualquer iniciativa voltada à aprendizagem.

Renata Del Bove, da Pernambucanas

Renata Del Bove, diretora executiva de Sustentabilidade e RH na Pernambucanas, complementa a reflexão, citando que a varejista inclui conteúdos obrigatórios em seus cursos de capacitação, alinhados à progressão de carreira. Ao mesmo tempo, também oferece recursos como vídeos, artigos, fóruns e enquetes, permitindo que os colaboradores escolham trilhas de aprendizagem que correspondam aos seus interesses. Essa abordagem, segundo ela, resulta em uma experiência de aprendizado. “Também promovemos práticas que valorizam o reconhecimento, premiações e iniciativas que incentivam o engajamento dos colaboradores nos treinamentos, contribuindo assim para a promoção da inovação dentro da empresa.”

Alinhamento de valor

Embora essas demandas escancarem o quão complexo pode ser o caminho para a inovação nas empresas, o fator “capacitação” não deve ser negligenciado pelo RH. Segundo a porta-voz da Pernambucanas, esse investimento no desenvolvimento do capital humano é determinante para o sucesso de uma empresa. Muito além de bater metas, a capacitação interna agrega valor à marca empregadora, melhora a reputação e atrai novos consumidores. “O papel do RH é fundamental nesse processo, pois ele conecta a estratégia da empresa e dos negócios às pessoas, além de ser o guardião e fomentador da cultura”, reflete a especialista. O resultado disso são times mais engajados, produtivos e alinhados com a missão e os valores da organização.

Tomando como exemplo a Pernambucanas, Renata destaca que o foco no desenvolvimento do capital humano abrange toda a trajetória do colaborador, desde o recrutamento até o avanço para cargos de liderança. Esse investimento não só aprofunda o conhecimento das pessoas sobre o negócio e suas estratégias, como também possibilita que elas aprimorem suas habilidades técnicas e comportamentais. “Isso contribui para a elevação do nível de conhecimento, aumento da produtividade e promoção de um clima organizacional saudável.”

A diretora executiva de Sustentabilidade e RH ressalta que “o treinamento contínuo e o desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais são essenciais para que os colaboradores se adaptem rapidamente às mudanças”. Por esse motivo, deve-se valorizar o lifelong learning e a inteligência emocional na formação de equipes engajadas e motivadas. Em um mercado em constante mudança, Renata vê na adaptabilidade um elemento crucial para a inovação, capacitando os colaboradores a desenvolverem novas ideias.

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Foto; Reprodução/Freepik

A fórmula do sucesso

Segundo Yuri Trafane, treinar os colaboradores os torna mais competentes em suas funções, o que amplifica não apenas a capacidade de gerar resultados, mas também seu engajamento. “As pessoas gostam de aprender e se sentem energizadas quando têm a oportunidade de fazer isso”, destaca. Além disso, matematicamente, já é possível afirmar que boas práticas de desenvolvimento humano resultam em melhor desempenho financeiro.

Ele cita alguns exemplos: segundo o Boston Consulting Group (BCG), empresas com gestão avançada de talentos tiveram um crescimento de receita 2,3 vezes maior em comparação às demais. O World Economic Forum aponta que investir em treinamento aumenta a competitividade e inovação. Já pesquisas da Gallup indicam que altos níveis de engajamento dos funcionários, impulsionados por desenvolvimento e bem-estar, elevam a rentabilidade em 21% e a produtividade em 17%.

Fraquezas x fortalezas

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Foto: Reprodução/kues1/Freepik

Enquanto muitas empresas têm concentrado seus esforços em desenvolver os gaps dos seus funcionários, pesquisas apontam para uma direção bem diferente. Daí surge a pergunta: a capacitação como caminho para a inovação deve direcionar o RH para onde, afinal? Yuri Trafane, da Ynner Treinamentos, explica que melhorar as fraquezas pode impedir uma pessoa de fracassar, mas não a torna excelente em nada. “Se você foca nos pontos fracos, as pessoas realmente não fracassam, mas também não se tornam excelentes em nada. A alta performance individual, de equipes e organizações ocorre quando os indivíduos estão em uma zona de excelência,” ressalta Yuri. E observa ainda: “estar na média é a receita para o fracasso”.

Embora não exista uma fórmula mágica para a qualificação, a dica é focar no desenvolvimento dos pontos fortes e dedicar atenção mínima aos pontos fracos, apenas o suficiente para que não causem problemas. Para exemplificar, Yuri Trafane cita: “Mozart era péssimo em finanças e ótimo em música. Ele não foi fazer curso de finanças; contratou alguém para cuidar disso para ele e se dedicou à música”. E ainda bem, pois assim pode se tornar um gênio em sua área.

Inteligência artificial desafia profissionais de RH

Nada dá para falar em capacitação, RH inovação sem citar a influência da inteligência artificial no processo de aprendizagem. IAs podem ser treinadas para potencializar as habilidades desejadas respeitando os parâmetros daquela determinada cultura organizacional. Nesse contexto, o profissional de RH precisa estar pronto para lidar com essas transformações e promover as mudanças culturais necessárias para acompanhar a evolução do mercado.

Para Renata Del Bove, diretora executiva de Sustentabilidade e RH na Pernambucanas, o RH é o grande protagonista desse processo. “Os profissionais de Recursos Humanos precisam entender que possuem um papel protagonista ou pioneiro na mudança cultural e na forma de pensar das empresas e lideranças para extrair o melhor potencial, como é o caso da Inteligência Artificial”, reflete.

Na Pernambucanas, por exemplo, já existem treinamentos desenvolvidos internamente com IA, que maximiza a eficiência na criação de conteúdo personalizado, impulsionando a inovação e o sucesso. A empresa utiliza a IA para criar conteúdo de forma produtiva, reduzindo o tempo necessário e permitindo a personalização conforme as necessidades de cada público. “Por exemplo, produzimos um curso completo de soft skills em menos de 15% do tempo que era utilizado anteriormente, o que nos permite ganhar tempo para personalizar os conteúdos”, cita.

Além disso, a IA ajuda a desenvolver roteiros de vídeos, mensagens, banners e legendas, oferecendo uma experiência mais eficiente aos colaboradores. “Assim, temos muito mais tempo para curadoria de conteúdos e acompanhamento de indicadores”, finaliza.


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